Confira os principais lançamentos em home-video para ver no fina de semana. Um deles, Fausto, de Aleksander Sokurov, está inédito nos cinemas da cidade
Suraj Sharma como Pi Patel em AS AVENTURAS DE PI
As aventuras de Pi (Life of Pi, 2012, EUA) de Ang Lee
Baseado no controverso romance A Vida de Pi de Yann Martel - o qual o próprio autor assumiu ter plagiado de uma resenha (veja bem, Martel nem sequer chegou a ler o livro!) de Max e os Felinos do gaúcho Moacyr Scliar -, As aventuras de Pi foi o maior vencedor do Oscar de 2013 com os prêmios de melhor direção para Ang Lee; melhor trilha sonora para Mychael Danna; melhor fotografia para Claudio Miranda e melhores efeitos visuais para a recém falida Rythm and Hues.
Uma fábula metafísica, talvez. Ang Lee e David Magee fazem de As Aventuras de Pi um estudo meticuloso sobre a arché (origem) da fé em meio à primorosidade técnica de todas as suas faculdades: desde os efeitos visuais e fotografia até a trilha sonora e mixagem.
Pi é um jovem indiano que, ao lado de Richard Parker (um tigre bengala) sobrevive a um terrível naufrágio no pacífico. Ambientado quase inteiramente dentro do bote onde a dinâmica de Pi e Parker se estabelece, As aventuras de Pi abre espaço para a discussão religiosa (afinal, o que une as diferentes religiões senão a fé?) e a eterna relação do homem com a natureza (o selvagem), um filme imperdível – e provavelmente o lançamento mais importante em home video do mês -. Leia a crítica de Pedro Martins Freire e Ávila Souza Oliveira no blog.
Michael Hakene e sua Palma de Ouro por AMOR
Amor (Amour, 2012. França/Áustria) de Michael Haneke
Michael Haneke já era um nome conhecido entre os cinéfilos desde Violência gratuita (versão de 1997), mas foi com o hype de A fita branca (vencedor da palma de ouro de 2009 em Cannes; vencedor de melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro de 2010 e indicado a melhor filme estrangeiro no Oscar de 2010) e Amor (vencedor da palma de ouro de 2012; vencedor de melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro de 2013 e vencedor de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2013) que o cineasta se projetou ao grande público. Haneke alcançou uma conquista até então inédita: levar duas palmas de ouro consecutivas. Isso sem contar com a rasteira que levou da academia em 2010, quando seu A fita branca (favorito até então) perdeu injustamente para o argentino O segredo dos seus olhos.
Em todo caso, a fama de Michael Haneke o precede. Dono de um cinema descaradamente manipulador, carregado de temáticas controversas, violento, cínico, enfim! Antes de qualquer coisa, seu cinema é um grande sisor de opiniões, há quem o ame e há quem o odeie. Fica fácil entender os dois lados da moeda ao assistir qualquer obra de sua filmografia. Já diria a metafísica dualista, sempre que se faz algo bom, algo ruim emerge em contraponto. A violência de Haneke, principal alvo da crítica negativa em sua obra, é mais uma condição do seu cinema do que característica maniqueísta (está além do bem e o mal), ou assim creio eu. O cineasta pinta a violência na tela com um ar de constatação, e não de suposição, há uma diferença muito sutil na fronteira das duas coisas.
O contrário não poderia acontecer em Amor, que apesar de ser um dos filmes mais homogêneos em termos de aceitação (e de estrutura narrativa) de toda a sua carreira, também causou certo rebuliço na comunidade de críticos de cinema. Narrando os últimos momentos de vida de um casal octogenário, o último filme de Haneke é extremamente incômodo e cruel ao mesmo passo que envolve e desperta emoções genuinamente positivas (como já havia citado, a manipulação está na tela, se ela existe para o bem ou para o mau, cabe ao indivíduo dizer). Muito se tem falado sobre Amor, para saber mais a respeito do filme, leia as críticas publicadas no blog clicando no nome do autor. Pedro Azevedo; Pedro Martins Freire; Ailton Monteiro; Darah Menezes
Johannes Zeiler como Fausto em FAUSTO
Fausto (Faust, 2011. Rússia) de Alexander Sokurov
Entre as várias adaptações cinematográficas do mito germânico de Fausto (mais conhecido pela versão de Johann Wolfgang von Goethe) figuram O estudante de Praga de Henrik Galeen; Fausto de F.W Murnau; A beleza do diabo de René Clair; O segundo rosto de John Frankenheimer; Doutor Faustos de Richard Burton; Filme demência de Carlos Reichenbach e Mefisto de Istvan Szabo.
Ao longo dos séculos, a literatura, poesia, pintura, música, escultura e agora o cinema vem reinterpretando e readaptando à realidade contemporânea o mito faustino. Não é a toa, portanto, que o cineasta russo Alexander Sokurov tenha escolhido Fausto entre tantas outras histórias para encerrar sua quadrilogia sobre o poder. Composta por Moloch; Taurus e O Sol; Fausto realiza o caminho inverso dos predecessores da quadrilogia. Enquanto as obras passadas investem no estudo de personagens históricos (Hitler, Lênin e Michinomiya Hiroito), o filme toma a liberdade de recontar um mito centenário.
No mito faustino, o Dr. Johann Faust vende sua alma à Mefistófeles (o diabo) em troca de infinito conhecimento científico e juventude eterna. Sokurov se aproxima da premissa Goethiana e toma o discurso de seu subtexto pra si. Não se engane, Fausto é um filme de Sokurov. Preparado para o incômodo? Fausto é uma ótima pedida!
Confira o trailer de Fausto.
Clique aqui para assistir o vídeo inserido.
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